Deficiência e “novo normal”: algumas reflexões para aleijar a universidade
DOI:
https://doi.org/10.18675/1981-8106.v35.n.69.s17519Palavras-chave:
Deficiência. Pandemia. Modelo social da deficiência.Resumo
Fundamentado teoricamente na perspectiva feminista do modelo social da deficiência, o texto explicita as contradições presentes no “novo normal”, conjunto de práticas, assim nomeadas, que orientam o cotidiano pós-pandemia. Seguindo as lutas das pessoas com deficiência, indicamos que as prescrições sanitárias têm desconsiderado os corpos deficientes, seja com informações inacessíveis, seja com práticas distantes da diversidade funcional dos corpos. Em contraposição, afirma-se que a deficiência deve ser uma categoria central na composição do mundo pós-pandemia. A conclusão aponta para a força política e epistemológica da Teoria Crip, que afirma ser urgente aleijar o mundo a fim de abrirmos outras possibilidades de laço social, não mais pautadas pelo normal, mas sim pelo aleijado. A convocação final é para aleijar a universidade, de modo que a produção de conhecimento seja centrada na deficiência e na acessibilidade.
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