A dobra do espaço em Medo da eternidade (1970), de Clarice Lispector: do banal ao sagrado
DOI:
https://doi.org/10.18675/1981-8106.v33.n.66.s17932Palavras-chave:
Crônica. Experiência. Geografia. Leitura de Mundo. Narrativa.Resumo
Nesta escrita, buscamos compreender, em Medo da eternidade, crônica de Clarice Lispector publicada em 1970, a geografia estabelecida pela personagem central na relação consigo própria a partir de uma divagação no percurso até a escola, quando algo lhe atravessa: o medo da eternidade. Nesse itinerário, sob uma leitura do espaço percorrido pela personagem em uma cena aparentemente pouco geográfica, uma relação possível com o espaço geográfico se estabelece ao reorganizar o conceito para além da materialidade, tocado pelas linhas de fuga do pensamento da personagem. Com base em nossa experiência de leitura de fruição, pela leitura de mundo de Carlo Ginzburg com seu paradigma indiciário, que nos orienta para a busca pelos indícios na cena narrada, e também pela perspectiva de experiência em Walter Benjamin, que nos convida à atenção ao que nos toca, passa-nos e nos modifica, entendemos a crônica como uma dobra do espaço para além do material que se transforma em criação, reorganiza o banal e escapa para a vida infinita. Clarice nos oferece uma possibilidade de leitura de mundo a partir de uma noção geográfica abundante, na qual a experiência daquilo que nos transforma importa mais que a dureza da eternidade do conhecido e que indaga: que espaço é este que vivemos?
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